SE EU MORRESSE AMANHÂ

Se eu morresse amanhã
diria em minha Aldeia todo o povo:
«Uma pessoa assim tão sã
que pena!... Moço tão novo!»

E a boa gente em triste compostura
iria em passo lento e tom funério
Acompanhar-me à sepultura
do velho Cemitério

E o meu vizinho, filho d’Algo e perro
porque faz pó o meu buick lesto
de fraque preto iria ao meu enterro
cheio de si e do seu gesto.

E Aquela que a sorrir me dilacera
e torna a minha Vida quási vã
tinha remorsos do que me fizera
se eu morresse amanhã.

Mas eu morro de velho e à passagem
que todos digam em voz alta:
Feliz viagem.
Já não fazia falta.



Do livro: poemas de Amor e Dúvida, livraria Portugália, Lisboa 1941

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