DO LIVRO , AO LONGO DO RIO AZUL





Tua mão



Deixo-me ir no barco e olho sem ver,
que só via a mágoa que tinha...

A mão na água corrente molho...

E, na frescura da água, o que ela sente
é a Tua mão na minha.



Ao Longo do Rio Azul, 1949

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NOVA PÁGINA DE "VIEIRA LISBOA"

fotografia retirada do sit " Vieira lisboa.net"


deixo-vos o poema Romanza do livro "POEMAS DE aMOR E DÚVIDA" e aconselho a visita à página Vieira Lisboa.net



























































































A POESIA DE ANTÓNIO VIEIRA LISBOA





FALANDO SOBRE A OBRA POÉTICA DE ANTÓNIO VIEIRA LISBOA (1)



António Vieira Lisboa vai construindo as suas próprias normas, procurando chegar a uma poética personalíssima.
“ Toda a sua Arte nasce de uma chama interior, de uma sensação de vazio, de um desconforto e insatisfação”.
Procura na escrita reinventar a vida em águas mais calmas.
A sua poesia é uma busca permanente do equilíbrio entre o corpo e o espírito.
Nos seus versos, é quase sempre a mulher que desempenha o papel principal;

A Terra é seca, é árida, é ingrata
Sem teu olhar de mulher.
Só a mulher à terra prende e ata
Com invisível nó que o Amor sugere.

/Chão de Amor 1944/

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DO LIVRO "CHÃO DE AMOR"


Regresso

A minha Mãe

Dessa Cidade de mil luzes chego

Ao velho Lar.

E, sob um céu que sintila,

neste sossego

duma paisagem sem par,

sinto a felicidade, o aconchego

da consciência tranquila.


A mim regressa a Alma do meu Lar…

E que alegria agora a de viver com ímpeto

a vida sã conforme a antiga lei

que nas minhas veias sinto

a girar.

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DO LIVRO " VERSOS ESTRANHOS "





RAIO VERDE



A M.A.



I


O Teu olhar, a quem o sente ofusca…
E, crê, não só ofusca como cega.
!Coitado d’Esse que uma vez o busca!
Jamais, em Vida, dêle se desprega.


O teu olhar atrai… Atrai e fere.
E, a luz, que dêle jorra e nos deslumbra,
tanto o Amôr e a Graça nos confere
como p’ra sempre deixa na penumbra.


Atrai…como Perigo p’ro abismo.
E fere…até ao imo o Coração.
È Raio Verde…e pode ser Ocaso.


Triste, por isso, muitas vezes cismo

na sorte d’Esse (e minha?por que não?)
que- distraída-olhaste por acaso.



II



Teus olhos ferem como dois punhais de luz…
luz que nos atravessa o Coração.
O que sugerem de intima emoção
no Verso frouxo já se não traduz.


Dêsde que um dia os olhos nêles puz,
-puz, neste caso, é força de expressão,
o que houve foi magnética atracção
à qual (!nem que quizesse!...)não me opuz.


Desde êsse dia cujo aroma evoco…
desde aí, nunca mais tira-los pude,
num esquecimento bom que em Mal só troco.


E a vê-los ! como o Tempo a gente ilude!...
Assim m’iluminassem com seu foco
a estrada longa desta Vida rude.


VERSOS ESTRANHOS - ANTONIO VIEIRA LISBOA

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OS 100 ANOS DE ANTÓNIO VIEIRA LISBOA

Casa da Garrida , local onde viveu o poeta até à sua morte em 1968




Carta de uma mulher


António, eu não podia assim ser tua…
E não julgues que fujo ao Amor que me cerca.
Por Ti, a minha carne moça estenua…
Se me retraio, é só… para que não Te perca.

No modo como me olhas, o Corpo estremece.
Nos olhos vejo o meu Desejo que avassala
e o tom da Tua voz, a minha carne aquece…
e quasi tonta, a Tua fala
oiço-A sonâmbula
d’olhos fechados, para ouvir na treva
como magia ou Sonho que me enleva
como carícia ou musica noctâmbula
em que o meu coração se depura e se esquece.

No entanto, eu não podia assim ser tua…
E resisti – nem sei como – a esse impulso!
Quanto sofri!...mas, o homem tudo desvirtua
e, já talvez me visses, com olhar repulso.

António! Eu sei que Tu és diferente
Que te magoo até no que estou a dizer-Te…
Mas sou mulher e como incoerente
Não sei que faça para não perder-Te.

Não é só o medo de entregar-me que me impede.
Sou tua desde o tempo em que Te sonho…
E enquanto possa me estonteio neste Sonho
Até desfalecer completamente nua
Com Alma e Coração à flor da pele.

Tão longe Te julguei… como alto Te ponho,
Mas, a Ti junta como um fruto incônho,
no modo que me der, que ninguém Te possua
e o ímpeto de Alegria o Amor Te revele.

Talvez eu seja quem mais sofra de nós dois…
Inda não sei esperar sem que me lembre,
Mas quando tua for…logo…amanhã…depois…
guarda-me para sempre.

Do Livro " Poemas de Amor e Dúvida"

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