DO LIVRO VERSOS ESTRANHOS

BALADA DO MEU CORAÇÃO




MEU Coração é um duende
que em Vida cumpre o seu fadário.
No seu caminho imaginário
não acha quem o compreende.

O Mundo corre solitário
à busca d’Essa que o atende.
A estrada é longa p’ro lunário
e, ao longe, mais e mais se estende.

Caminha sempre em amor vário
-Êle que um só Amor atende.
É vasto, fundo cinerário
das Ilusões que em si acende.

Meu Coração é um duende…
Cansado arrasta o seu sudário.
Não acha quem d’Amor o prende…
Lamentem antes o seu fadário.

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UM POEMA DEDICADO A Bertha de Betencourt *

Aos 21 anos de B. de B.


Vinte e um anos é a idade certa
d’Essa que tem no olhar o céu azul,
na bôca o riso claro que é oferta
da Sua alma de mulher do sul.

Aos vinte e um a Vida mal desperta,
seu voo desperta para a imensidade.
Por isso, ao ensaiar o vôo,!Bertha!
que atinja a Vida com Felicidade.

Que atinja a Vida que eu procuro em vão
num vôo leve, côr de rosa e branco…
cheio de Amor, portanto, e de Bondade.

Que nunca Lhe amargure o Coração
e ria sempre com Seu sorriso franco
olhando calma o Céu e a Eternidade.



Do Livro Mulheres, 1942

(*) "A paixão da vida do poeta"

OS 100 ANOS DE ANTÓNIO VIEIRA LISBOA




Está patente até ao dia 8 de Agosto, na Biblioteca de Ponte de Lima, uma exposição sobre a obra do poeta.

Assim se vai da lei da morte libertando, uma das vozes que mais e melhor cantou o amor à Mulher e ao Lima -VIEIRA LISBOA.

Em nome do movimento de amigos de Vieira Lisboa, um muito sentido agradecimento à Dr.ª Ana Carneiro e Dr.ª Cristiana, directoras da biblioteca e Arquivo, pelo esforço e empenho demonstrado na elaboração desta exposição.

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A VILA E O RIO





A vila
tranquila
¿ dorme ou suspira?
junto do Rio.

E o rio,
safira
em fio,
de volta da Vila,
delira.

A Ponte já velha de tanto relento
se mira
no fundo
do Rio sedento.

Alheia,
num esquecimento
do que é deste mundo,
nem vê que a aniquila
a areia.

É o equinócio
do Outono.
E o Rio no velho caminho vacila...
pára...rodeia,
enfim prossegue com cautela:
que não perturbe a Vila
no sono
d’ocio.

Nem vela
circula.
E o Rio areia acumula
no pensamento que o atribula
de à Vila
chegar.

Vem longe o Inverno que traz as cheias.
E o Rio infeliz
se afila
perdido de Amor, com ciúmes da Ponte.
Até lhe levou duma vez as ameias.

E a Vila, de branco, só espera o Luar
e o rouxinol de fronte.


in Ao Longo do Rio Azul, Edição de Autor, Ponte de Lima, 1949, pp. 44-45

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ANTÓNIO VIEIRA LISBOA - 100 ANOS

"Nenhuma algema agora me acorrenta."

Estará patente até ao dia 8 de Agosto, na Biblioteca de Ponte de Lima, a Exposição António Vieira Lisboa 100 Anos.

Trata-se de uma iniciativa, que tem por principal objectivo dar a conhecer aos utilizadores daquele espaço de cultura, o que foi a obra e o homem, que publicou com o nome reduzido de António Vieira Lisboa.

Aí estarão expostos os livros que escreveu, bem como um conjunto de fotografias e objectos pessoais que pertenceram ao poeta.

Aqui fica um convite a todos que passarem por Ponte de Lima, não deixem de visitar a exposição.

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BIOGRAFIA REDUZIDA DO POETA





ANTÓNIO DA SILVA GOUVEIA VIEIRA LISBOA, filho de António Augusto Vieira Lisboa, gerente do Banco Ultramarino, natural de Ponte de Lima e de Dª Beatriz da Silva Gouveia Vieira Lisboa, natural de Bolama-Guiné, neto paterno de Alfredo Calixto Vieira Lisboa e de Dª Rosa Carolina Vieira Lisboa e materno de António da Silva Gouveia e de Dª Henriqueta Pereira de Gouveia, nasceu em Luanda, na então Província Ultramarina de Angola, ás três horas e vinte minutos da manhã, do dia 20 de Julho de 1907.

Foi baptizado no dia 6 de Maio de 1908, na igreja de Nª Sª dos Anjos, na Cidade de Lisboa.

Foram padrinhos de baptismo o senhor António Maria Vieira Lisboa, casado, Conselheiro, juiz da Relação de Lisboa e sua esposa, a Sª Dª Margarida Vieira Lisboa, segundos tios do baptizado.

A cerimónia foi presidida pelo Revº Prior Francisco Mendes Alçada de Paiva, pároco da Freguesia dos Anjos, na Cidade de Lisboa.

António Vieira Lisboa formou-se em Direito.

Instalado na sua “Casa da Garrida”, em Ponte de Lima, no termo da freguesia da Ribeira, o advogado poeta, começa a sua criação artística, embalado pela natureza limiana que o inspira de uma forma intensa.

Aos 28 de Julho de 1934, casa-se na Conservatória do registo Civil de Ponte de Lima, com Maria Guilhermina Vieira Lisboa, não havendo filhos, o casal acabaria por separar-se, sendo decretado o divórcio no dia 26 de Dezembro de 1944.

A Europa vivia mergulhada numa crise profunda decorrente da 2ª Grande Guerra Mundial e do avanço do poderio Alemão, que explorava os povos dos países que capitulavam diante da máquina de guerra do Fuhrer.

Decorria o Ano de 1940 e nas oficinas gráficas da “Gazeta dos Caminhos-de-Ferro”, em Lisboa eram impressos os exemplares da sua primeira obra literária, Versos Estranhos, que haveriam de ser editados pela mão da livraria Portugália.

No ano seguinte, novamente a livraria Portugália dava à estampa um novo titulo, tratava-se dos Poemas de Amor e dúvida, que foram impressos na gráfica Santelmo, em Lisboa.

Os anos seguintes foram de intensa actividade criativa por parte do poeta, publicando sucessivamente em:

Em 1942, Mulheres (Versos).

Em 1943, Chão de Amor.

Em 1944, Teu Corpo Minha Alma.

Em 1945, Testamento Sentimental.

Em 1946, Bess.

De notar, que as publicações de 1944 a 1946, não chegaram a entrar no mercado.

Em 9 de Setembro de 1947, o poeta Vieira Lisboa, terminava aquela que haveria de ser a sua última criação literária e nada melhor do que tratar os temas que sempre o inspiraram, a Mulher e o Lima.

Ao Longo do Rio Azul, só haveria de ser tornada pública dois anos mais tarde, decorria já o Ano de 1949.

Mas António Vieira Lisboa, não viveu encerrado no interior do seu solar da rua do Arrabalde, os amigos eram presença assídua nos almoços e jantares com que presenteava os seus convidados.

António Vieira Lisboa foi presidente da Direcção da Real Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Ponte de Lima, de 1936 a Junho de 1938.

Vieira Lisboa, era um amante da sua terra, da gente e das tradições limianas, não esqueçamos, que era na sua “Casa da Garrida”, onde repousava o touro que em véspera de Corpus Christi, haveria de correr na tradicional “Corrida da Vaca das Cordas”.

Paralelamente à sua criação literária e intervenção cívica, desenvolveu um importante papel na dinamização da agricultura e indústria local.

Vieira Lisboa, nas propriedades que possuía, sobretudo nas freguesias da Ribeira (Quinta dos Fortes, Qt. Bouça, Qt. do Pombal e QTª da Aldeia) e Rebordões (Quinta das Fontes e da Queixadinha), foi pioneiro na introdução de novas práticas agrícolas, bem como na experimentação de novas culturas.

Desempenhou um importante papel na actividade industrial do concelho, ao nível da produção e fabrico de azeite.

António Vieira Lisboa era um homem bom!

As escadas da sua casa da Garrida eram enxameadas por mendigos e pedintes, que aí recorriam para muitas das vezes matarem a fome. Este homem era incapaz de negar a ajuda a quem dele se abeirasse. As crianças, eram a sua alegria e por elas era capaz das maiores loucuras, nunca fez distinção entre os seus meninos e os filhos dos caseiros e demais serviçais.

Já acometido pela doença, casou-se no Hospital de Ponte de Lima, no dia 31 de Maio de 1968, com Maria Libânia M. Vieira Lisboa, com quem teve quatro filhos.

No dia 13 de Junho de 1968, dia de Santo António, pelas 18 horas, os sinos da matriz de Ponte de Lima, anunciavam a triste notícia do seu falecimento no Hospital da Misericórdia, agastado pela doença, o Homem e o Poeta, haviam-se calado para sempre.

Ponte de Lima, via partir tão cedo, uma das vozes que componha o coro daqueles que tão bem souberam cantar o Amor a esta terra.

Não me parece que a dor desta perda tenha encontrado eco suficientemente justo na terra que tanto amou no seu lirismo Limiano.

Vieira Lisboa, merecia mais e Ponte de Lima, continua a dever-lhe o respeito e o merecido reconhecimento pelo seu mérito.



Ponte de Lima, Junho 2008
António D. da Costa Morais

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SE EU MORRESSE AMANHÂ

Se eu morresse amanhã
diria em minha Aldeia todo o povo:
«Uma pessoa assim tão sã
que pena!... Moço tão novo!»

E a boa gente em triste compostura
iria em passo lento e tom funério
Acompanhar-me à sepultura
do velho Cemitério

E o meu vizinho, filho d’Algo e perro
porque faz pó o meu buick lesto
de fraque preto iria ao meu enterro
cheio de si e do seu gesto.

E Aquela que a sorrir me dilacera
e torna a minha Vida quási vã
tinha remorsos do que me fizera
se eu morresse amanhã.

Mas eu morro de velho e à passagem
que todos digam em voz alta:
Feliz viagem.
Já não fazia falta.



Do livro: poemas de Amor e Dúvida, livraria Portugália, Lisboa 1941

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DO LIVRO MULHERES


MULHERES


A Jaime Brasil

Em tôdas Elas eu amei o Amor...
Em tôdas Elas eu amei só Uma.
E, amando-As tôdas com igual fervor,
eu , finalmente, não amei nenhuma.

Em cada uma, a Outra amei...a Ausente.
Essa que em si a gente idealiza.
A tõdas quis de modo diferente
na vaga aspiração que se humaniza.

E não sei se As deixei se me deixaram...
Só sei que nunca até a mim chegaram.
Sonho que eu tive por pedaços loucos...

Nos olhos d Elas, meigos, eu revia-me
e, a minha Alma entontecida, ia-me
com essa vida que, lhes dava, aos poucos.

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DO LIVRO VERSOS ESTRANHOS

Um beijo!

A M. L.


Promessa feita pela Tua boca
-bõca a sorrir de rapariga sã-
mesmo que fôsse uma promessa louca
nunca seria uma promessa vã.

Fiquei, por isso, c’oa cabeça oca
quando-vermelha como uma romã-
fôste dizendo em ar de coisa pouca:
“Sim…dou-te um beijo!...Sim…mas amanhã!”

?Por que motivodesprendeste o encanto
delicioso dessameiga hora
se, se Tu me beijas,amanhã, no entanto?

A felicidade, vai depressa embora…
E já que fazes espera-la tanto
um beijo só não chega p’ra demora.




Versos Estranhos António Vieira Lisboa, p-16

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Arquivo recebe poesia de António Vieira Lisboa




São noticias como esta que nos dão coragem para continuar a peregrinar nesta caminhada rumo ao reconhecimento público, do homem e do poeta.

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ANTÓNIO VIEIRA LISBOA - Poeta (1908-1968)

Um beijo!

A M. L.


Promessa feita pela Tua boca
-bõca a sorrir de rapariga sã-
mesmo que fôsse uma promessa louca
nunca seria uma promessa vã.

Fiquei, por isso, c’oa cabeça oca
quando-vermelha como uma romã-
fôste dizendo em ar de coisa pouca:
“Sim…dou-te um beijo!...Sim…mas amanhã!”

?Por que motivodesprendeste o encanto
delicioso dessameiga hora
se, se Tu me beijas,amanhã, no entanto?

A felicidade, vai depressa embora…
E já que fazes espera-la tanto
um beijo só não chega p’ra demora.




Versos Estranhos António Vieira Lisboa, p-16






LIBERTAÇÃO



Foi-se o prestígio do Teu corpo môço.
Só me prendia a Ti a carne: observo
Mas dessa posse ainda em mim conservo
Tôdo o vestígio que nas veias ouço.

Nada se acaba, extingue de repente.
…! E foram anos de servil ardor!...
Sofri da Tua Carne o Seu explendôr
sem sentir peso… doentiamente.

Anos inteiros, confundiu-me a posse
…Ah muita vez eu tenho o que suponho!...
Ia buscar a ilusão ao sonho…
!? Mas quem o amargo sinta e não adoce?!

É meu olhar mais puro, claro e aberto…
Nenhuma algema agora me acorrenta.
E tudo vive em mim e experimenta
essa alegria e alívio dum liberto.





António Vieira Lisboa
Poema do livro “ MULHERES” 1942, Bertrand- 1942

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OFERTA DE OBRAS DO POETA ANTÓNIO VIEIRA LISBOA AO ARQUIVO MUNICIPAL DE PONTE DE LIMA





OBRIGADO!


Foi com bastante satisfação e agrado que verificamos através do jornal Alto Minho, que o Arquivo Municipal de Ponte de Lima, recebeu da Dª Manuela Marques dos santos Neto Mota da Cruz, a oferta de um conjunto de livros do poeta António Vieira Lisboa, que tinham sido oferecidos pelo autor ao seu marido.
Deste modo, pretende a Sr.ª contribuir para a divulgação da obra poética, daquele que foi considerado o “cantor do Amor à Mulher e ao Lima”.
É com enorme sentido de encorajamento que recebemos a notícia desta oferta, pois é sinal de que começamos a sentir que outros nos vão acompanhando nesta caminhada peregrina, que encetamos no início do ano.
Começa a sentir-se o eco do grito que foi lançado, para que a voz do poeta António Vieira Lisboa fosse ouvida.
Á Dª Manuela e a todos aqueles que se tem disposto caminhar ao nosso lado nesta árdua tarefa, um muito obrigado.

Os Amigos do poeta António Vieira Lisboa


MIRAGEM

Olhaste um dia o rio como quem
lá deixa o seu pesar.
E desde aí o rio tem
a cor do teu olhar.

Teus lábios se entreabriram ao frescor
da água que corria doce.
E o rio logo esse sabor
à minha boca trouxe.

Olhaste o rio e viste a tua imagem
que a água reflectia assim.
E o rio guarda…até essa miragem
Do teu Amor por mim.

Do Livro, ao Longo do Rio Azul



ILUSÃO


I


Oh meu Amor mente, mente
Uma mentira inocente
Mas mente até ao fim.
Com tua boca tão linda
Diz que me queres ainda
Que ainda gostas de mim.

DO LIVRO " Testamento Sentimental "

TESTAMENTO SENTIMENTAL


Talvez Ela até não conhecesse bem
! tão escondido estava!
o Seu imo adorável!
que da bôca Lhe transborda
em sorriso límpido, claro honesto feliz
quando para mim olha
e que, por vezes, vibra num riso que é um gorgeio
que é um canto alegre de ave do paraíso.


Essa Mulher que não pode saber quanto Bem Lhe quero
!ah como me custa!
Vou A eu deixar
Para que Ela seja
Feliz…
Feliz…
Feliz…
três vezes Feliz.


E as tristezas, os pesares, todos os contratempos
que a sua Vida entravem
levo-os comigo junto com a Vida.



Antonio Vieira Lisboa, testamento Sentimental, 1945

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DR. ANTÓNIO VIEIRA LISBOA - Um amigo de Ponte de Lima e dos desfavorecidos

Folheando o Jornal Cardeal Saraiva de 13 de Janeiro de 1938, podemos encontrar uma noticia, onde nos é dado a conhecer mais um cargo ocupado pelo poeta Dr. António Vieira Lisboa, desta vez, tratava-se da presidência da Associação dos Socorros Mútuos de Ponte de Lima.
Assembleia Geral
Presidente- Dr. António Vieira Lisboa
Vice- " - José Rodrigues de Sousa Vieira Lisboa
Secretário - Luis Joaquim da Silva
....
Direcção
Presidente - Francisco Vieira
Vice " - Francisco José da Silva
Secretário - Luis Joaquim da Silva
....
Conselho Fiscal
....
Presidente - João Mendes Portugal
secretário - Noémio Joaquim da Silva
Relator - José Joaquim Pereira de Melo

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