UM POEMA DEDICADO PELO POETA AO DR. AMÂNDIO VIEIRA LISBOA


Um soneto da autoria do Poeta Dr. António Vieira Lisboa, lido no dia 30 de Junho de 1948, na Homenagem prestada pela Santa Casa da Misericórdia de Ponte de Lima em "Sessão solene na Sala grande da Santa Casa" ao Dr. Amândio Vieira Lisboa, quando festejava os 50 anos de clinica, tio-avô do Poeta.


Ao Dr. Amândio Vieira Lisboa


Cincoenta anos de trabalho intenso
é meio século de trabalhos, sim ...
mas quantas vidas dum olhar suspenso
o seu olhar reteve o inglório fim !

Mas, quanta Dor seu clinico bom senso
minguou, escondendo a sua dor afim !
E a quanto desalento foi propenso
porque a doença não cedia enfim !

Seu Pai já velho, como sacerdócio,
lhe deixou esta vida que eu pressinto
mais rica e bela que uma vida d' ócio,

de mais valor porque só leva o Bem.
E, nesta hora grata, pena sinto
de não ter sido médico também.
Poema gentilmente cedido por Pedro Moreira Braga, familiar do poeta.

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UM POEMA DEDICADO AO AMIGO - TEÓFILO CARNEIRO

Deixo um poema escrito pelo poeta António Vieira Lisboa, dedicado ao seu amigo Dr. Teófilo Carneiro, publicado no Jornal Cardeal Saraiva, de 8 de Setembro de 1949.


NA MORTE DO DR. TEÓFILO CARNEIRO

Um companheiro mais que lá se vai...
Um amigo de menos que contamos!
para dentro de nós, na dor,olhamos
o lugar donde a sua vida sai.

Um pesado silencio á volta cai
em que, tremente, a alma esvasiamos
e só então, miséria!, avaliamos
enquanto o amigo morto nos atrai.

A sua morte não separa, une
os corações num elo mais perfeito
e mostra aque a bondade não é vã...

A sua morte, com remorso, pune
o que por Ele deixamos de ter feito
mas por outrem faremos amanhã.


Ponte de Lima, 3 - Agosto de 1949

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DO LIVRO " AO LONGO DO RIO AZUL" 1949

O RIO


Duas lágrimas que escorrem pelos montes
com pena dum Inverno tão tristonho;
das mil canções das milenárias fontes
de moças encantadas por um sonho;
do eco dos perdidos horizontes
do paraíso é que se fez o Rio
a que a dor, a esperança, amor confio.

Rio que pela areia erra
antes que escolha por onde ir...
Rio que passa pela terra
sem a ferir,
Rio que faz
cismar a gente.
Rio de paz.
Rio de quem a alma sente...
Rio das íntimas ternuras...
Rio das amorosas juras...
Rio dos íntimos mistérios,
das confidências puras.
Rio em que os olhos tenho absortos.
Rio em que até depois os mortos
quedam-se a olhar dos altos cemitérios.



Da obra «Ao Longo do Rio Azul», edição de autor, Ponte de Lima,

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DO LIVRO " VERSOS ESTRANHOS" 1941


Poema "Ilusão" , do Livro Versos Estranhos




Algumas impressões sobre o livro " Versos Estranhos", publicadas em 1942, pela impensa da época.

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UM SONETO DO LIVRO "MULHERES"

Um soneto do livro "Mulheres (versos)" de António Vieira Lisboa, publicado em 1942 pela Bertrand.


MULHERES...

A Jaime Brasil

Em tôdas Elas eu amei o Amor...
Em tôdas Elas eu amei só Uma.
E, amando-As tôdas com igual fervor,
eu , finalmente, não amei nenhuma.

Em cada uma, a Outra amei...a Ausente.
Essa que em si a gente idealiza.
A tõdas quis de modo diferente
na vaga aspiração que se humaniza.

E não sei se As deixei se me deixaram...
Só sei que nunca até a mim chegaram.
Sonho que eu tive por pedaços loucos

...Nos olhos d Elas, meigos, eu revia-me
e, a minha Alma entontecida, ia-me
com essa vida que, lhes dava, aos poucos.

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DO LIVRO " MULHERES"

LIBERTAÇÃO


Foi-se o prestígio do Teu corpo môço.
Só me prendia a Ti a carne: observo
Mas dessa posse ainda em mim conservo
Tôdo o vestígio que nas veias ouço.


Nada se acaba, extingue de repente.
…! E foram anos de servil ardor!...
Sofri da Tua Carne o Seu explendôr
sem sentir peso… doentiamente.


Anos inteiros, confundiu-me a posse
…Ah muita vez eu tenho o que suponho!...
Ia buscar a ilusão ao sonho…
!? Mas quem o amargo sinta e não adoce?!


É meu olhar mais puro, claro e aberto…
Nenhuma algema agora me acorrenta.
E tudo vive em mim e experimenta
essa alegria e alívio dum liberto.



António Vieira Lisboa
Poema do livro " MULHERES" 1942, Bertrand- 1942

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CASA DA GARRIDA - Um local de cultura e de saber

Fachada principal da "Casa da Garrida"



Aspecto da fachada posterior da " Casa da Garrida"


Aspecto da fachada posterior da "Casa da Garrida"
O poeta António Vieira Lisboa, aqui viveu e foi nesta casa e nos jardins que a mesma possuía, que encontrou a inspiração para toda a sua produção literária, desenvolvida ao longo de toda a década de 40.
Actualmente a casa, foi alvo obras de beneficiação e remodelação, para aí ser instalado o Pólo de Ponte de Lima da Universidade Fernando Pessoa.
Esta casa limiana, carregada de história foi testemunha de muitas e variadíssimas situações, bem como de acontecimentos que marcaram a vida desta vila que não quer ser cidade.
Por ela passaram figuras ilustres da vida limiana, como: Marechal Francisco Melo da Gama- Governador de Diu; Conselheiro Pinto Osório- Presidente do Supremo Tribunal de Justiça; Conselheiro José Maria Vieira Lisboa- presidente do Supremo Tribunal de Justiça e padrinho do poeta.


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DO LIVRO "VERSOS ESTRANHOS"

UM BEIJO


A M. L.


Promessa feita pela Tua boca-bõca
a sorrir de rapariga sã
-mesmo que fôsse uma promessa louca
nunca seria uma promessa vã.

Fiquei, por isso, c’oa cabeça oca
quando-vermelha como uma romã
-fôste dizendo em ar de coisa pouca:
“Sim…dou-te um beijo!...Sim…mas amanhã!”


?Por que motivo desprendeste o encanto
delicioso dessa meiga hora ,
se Tu me beijas,amanhã, no entanto?


A felicidade, vai depressa embora…
E já que fazes espera-la tanto
um beijo só não chega p’ra demora.


Versos Estranhos - António Vieira Lisboa, p-16

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BIOGRAFIA DO POETA ANTÓNIO VIEIRA LISBOA - 40 Anos após a sua morte







ANTÓNIO DA SILVA GOUVEIA VIEIRA LISBOA, filho de António Augusto Vieira Lisboa, gerente do Banco Ultramarino, natural de Ponte de Lima e de Dª Beatriz da Silva Gouveia Vieira Lisboa, natural de Bolama-Guiné, neto paterno de Alfredo Calixto Vieira Lisboa e de Dª Rosa Carolina Vieira Lisboa e materno de António da Silva Gouveia e de Dª Henriqueta Pereira de Gouveia, nasceu em Luanda, na então Província Ultramarina de Angola, ás três horas e vinte minutos da manhã, do dia 20 de Julho de 1907.

Foi baptizado no dia 6 de Maio de 1908, na igreja de Nª Sª dos Anjos, na Cidade de Lisboa.

Foram padrinhos de baptismo o senhor António Maria Vieira Lisboa, casado, Conselheiro, juiz da Relação de Lisboa e sua esposa, a Sª Dª Margarida Vieira Lisboa, segundos tios do baptizado.

A cerimónia foi presidida pelo Revº Prior Francisco Mendes Alçada de Paiva, pároco da Freguesia dos Anjos, na Cidade de Lisboa.

António Vieira Lisboa formou-se em Direito.

Instalado na sua “Casa da Garrida”, em Ponte de Lima, no termo da freguesia da Ribeira, o advogado poeta, começa a sua criação artística, embalado pela natureza limiana que o inspira de uma forma intensa.

Aos 28 de Julho de 1934, casa-se na Conservatória do registo Civil de Ponte de Lima, com Maria Guilhermina Vieira Lisboa, não havendo filhos, o casal acabaria por separar-se, sendo decretado o divórcio no dia 26 de Dezembro de 1944.

A Europa vivia mergulhada numa crise profunda decorrente da 2ª Grande Guerra Mundial e do avanço do poderio Alemão, que explorava os povos dos países que capitulavam diante da máquina de guerra do Fuhrer.

Decorria o Ano de 1940 e nas oficinas gráficas da “Gazeta dos Caminhos-de-Ferro”, em Lisboa eram impressos os exemplares da sua primeira obra literária, Versos Estranhos, que haveriam de ser editados pela mão da livraria Portugália.

No ano seguinte, novamente a livraria Portugália dava à estampa um novo titulo, tratava-se dos Poemas de Amor e dúvida, que foram impressos na gráfica Santelmo, em Lisboa.

Os anos seguintes foram de intensa actividade criativa por parte do poeta, publicando sucessivamente em:

Em 1942, Mulheres (Versos).

Em 1943, Chão de Amor.

Em 1944, Teu Corpo Minha Alma.

Em 1945, Testamento Sentimental.

Em 1946, Bess.

De notar, que as publicações de 1944 a 1946, não chegaram a entrar no mercado.

Em 9 de Setembro de 1947, o poeta Vieira Lisboa, terminava aquela que haveria de ser a sua última criação literária e nada melhor do que tratar os temas que sempre o inspiraram, a Mulher e o Lima.

Ao Longo do Rio Azul, só haveria de ser tornada pública dois anos mais tarde, decorria já o Ano de 1949.

Mas António Vieira Lisboa, não viveu encerrado no interior do seu solar da rua do Arrabalde, os amigos eram presença assídua nos almoços e jantares com que presenteava os seus convidados.

António Vieira Lisboa foi presidente da Direcção da Real Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Ponte de Lima, de 1936 a Junho de 1938.

Vieira Lisboa, era um amante da sua terra, da gente e das tradições limianas, não esqueçamos, que era na sua “Casa da Garrida”, onde repousava o touro que em véspera de Corpus Christi, haveria de correr na tradicional “Corrida da Vaca das Cordas”.

Paralelamente à sua criação literária e intervenção cívica, desenvolveu um importante papel na dinamização da agricultura e indústria local.

Vieira Lisboa, nas propriedades que possuía, sobretudo nas freguesias da Ribeira (Quinta dos Fortes, Qt. Bouça, Qt. do Pombal e QTª da Aldeia) e Rebordões (Quinta das Fontes e da Queixadinha), foi pioneiro na introdução de novas práticas agrícolas, bem como na experimentação de novas culturas.

Desempenhou um importante papel na actividade industrial do concelho, ao nível da produção e fabrico de azeite.

António Vieira Lisboa era um homem bom!

As escadas da sua casa da Garrida eram enxameadas por mendigos e pedintes, que aí recorriam para muitas das vezes matarem a fome. Este homem era incapaz de negar a ajuda a quem dele se abeirasse. As crianças, eram a sua alegria e por elas era capaz das maiores loucuras, nunca fez distinção entre os seus meninos e os filhos dos caseiros e demais serviçais.

Já acometido pela doença, casou-se no Hospital de Ponte de Lima, no dia 31 de Maio de 1968, com Maria Libânia M. Vieira Lisboa, com quem teve quatro filhos.

No dia 13 de Junho de 1968, dia de Santo António, pelas 18 horas, os sinos da matriz de Ponte de Lima, anunciavam a triste notícia do seu falecimento no Hospital da Misericórdia, agastado pela doença, o Homem e o Poeta, haviam-se calado para sempre.

Ponte de Lima, via partir tão cedo, uma das vozes que componha o coro daqueles que tão bem souberam cantar o Amor a esta terra.

Não me parece que a dor desta perda tenha encontrado eco suficientemente justo na terra que tanto amou no seu lirismo Limiano.

Vieira Lisboa, merecia mais e Ponte de Lima, continua a dever-lhe o respeito e o merecido reconhecimento pelo seu mérito.



Ponte de Lima, Junho 2008

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VERSOS ESTRANHOS 1941

António Vieira Lisboa, inicia a sua produção literária nos anos 40, publicando todos os seus livros nessa década.
O poeta Vieira Lisboa, tem sido esquecido pela terra que tanto amou e tão bem soube cantar no seu lirismo.
Este blog, foi criado no momento em que decorrem 40 anos após a sua morte e pretende ser o local onde todos aqueles que possuam referencias, documentos ou fotografias que se relacionem com o homem e poeta, possam deixar o seu contributo para a reabilitação de uma das mais belas mentes poéticas de Ponte de Lima.
A todos deixo o meu apelo para contribuírem para a tarefa que agora inicio.
A sua primeira publicação, foram os Versos estranhos, de que deixo aqui algumas impressões, tornadas publicas nesse tempo, 1941.



CERTA NOITE DE JUNHO…


Beijei-Te… a cada beijo tinha o cunho
dum tal afago que não há segundo.
O céu d’estrêlas foi-nos testemunho
que é d’aí o nosso amor oriundo…


Beijei-Te…(e como ainda treme o punho!)
sorvi sem pressa o gôsto até ao fundo…
-!Amôr, que noite mística de Junho
e como estava tão distante o mundo!...


Nessa inefável hora de vertigem:
Tu-num impulso que Tenão supuz-
Colaste à minha a Tua boca virgem…

Depois… os beijos foram vindo a flux
Sem saber ao certo a sua origem
Numa harmonia a que oAmôr tem jus.


António Vieira Lisboa
In: “ Versos Estranhos,(17) 1941



IMPRESSÕES SOBRE O LIVRO “VERSOS ESTRANHOS”

De António Vieira Lisboa



Estes Versos, estranhos
a muitíssima gente,
são da Vida que sente,
nos seus gozos e lanhos,
um poeta diferente.

(o poeta Vieira Lisboa)

… patrício de Diogo Bernardes e António Feijó,
como Eles emotivo e lyrico cantor de inspiração vibrante…

(Dr. Raul Teixeira)


…canta o Amor à sua maneira, com forte veemência sexual,
sem contudo ferir o pudor alheio, tão certo é que sob a estridente vibração do instinto ainda podem ouvir-se, nítidas, as serenas pulsações de uma alma pura, despida é certo, de preconceitos absurdos, mas cheia de sentimentos belos, nobres e elevados.

(Jornal cardeal Saraiva)

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