Do Livro " Ao Longo do Rio Azul"

Na areia enterrado jaz

Na areia enterrado jaz
meu coração infeliz.
O rio como Ela faz,
o rio tambem não quiz.

Mas essa palavra dada
por Ela em certo momento
pelo vento foi levada...
Só não foi o esquecimento.

Quem me dera tambem ir-me,
lá apanhado de chofre,
com o coração que sofre
pode ser ao amor tão firme.

Ir-me aí pela corrente,
rio abaixo até à foz,
sem ter tempo, de repente,
de inda me lembrar de vós.

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ANTÓNIO VIEIRA LISBOA - Pensamentos







E muita vez, na dôr

que pende, que amarfanha, cansa e dobra

o coração sossobra...



Lembra-Te sempre disto, oh meu Amor!



António Vieira Lisboa, in " Testamento Sentimental"

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Opiniões, sobre a obra poetica de António Vieira Lisboa


Lírico, o poeta canta o amôr, a mulher, a forma, a linha ondulante dum corpo, a música indizível dum beijo. Está dentro da tradição do lirismo Português e, sendo um dos últimos chegados, enfileira, nesse ponto, entre os primeiros.
“O Primeiro de Janeiro, de 5 de Maio de 1943”
(Sobre o livro “Mulheres”)

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PRIMAVERA - Do livro "Chão de Amor"


Primavera

Que bem se respira esta manhã!
É Primavera! Como cheira a terra!
Que belo ar! Que bela aragem sã?
Que bem teu Corpo cheira oh minha Terra!

Mas esse ar que te percorre a face
e que te aquece! Oh minha terra! E que te impele
é como o beijo morno que eu deixasse
correr suave! Oh moça! A Tua pele.

Mas esse odor a terra, o odor que estua
de toda a leiva núbil que rescende
é simplesmente o mesmo odor da Tua
virgínia carne! Amor! Que a minha ascende.

Este ar, este cheiro a terra faz-me
o mesmo mal que a noiva que foi minha.
Respiro e tenho, quanto a aragem traz-me,
nos meus sentidos… como a Ela tinha.

Do livro “Chão de Amor”

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DO LIVRO, " ilusão "

Caminho do Vau, envolvente à propriedade do poeta em Crasto- Ribeira

Ilusão



I

Oh meu Amor mente, mente
uma mentira inocente
mas mente até ao fim.
Com tua boca tão linda
diz que me queres ainda
que ainda gostas de mim.

II

Eu bem sei que é mentira,
mas feliz se te ouvira
essa mentira querida.
numa mentira eu ponho
ainda todo o meu sonho,
o sonho da minha Vida.

III

Oh meu Amor mente, mente
que assim, não sofre, não sente
o Coração que não vês.
Bem sei que não é verdade,
mas mente por Caridade,
mente só mais esta vez.

IV

Ninguem dirá que é mentira
o que essa boca profira
mesmo que ria no fim.
Oh meu Amor mente, sim
que eu vivo dessa mentira
que ainda gostas de mim.

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Do livro "Chão de Amor"

Caminho e portão de acesso à quinta da Aldeia, propriedade da familia do poeta no inicio do sec.XX

Ares da minha Terra

! Ares da minha terra, ah como são
levinhos, frescos! Tal o Seu sorriso para mim.
De tão cansado que da Vida vim
já se remoça o velho Coração.

! Ares da minha terra que me dão
mais que saudade… até”bondade”, sim!
onde com gosto saboreio o pão
olhando os campos verdes nos Seus olhos de cetim.

Ares tão novos sempre, ondeando ao corpo a blusa solta,
dão cor ao rosto d’Ella… e não A olho.
(! Fica tão linda a Sua cabeça revolta!)

A mim me acariciam como um Seu pudico beijo.
! Ares da minha Terra, a secura da Vida molho
e neles bebo ainda um último desejo!

Ponte do Lima
Quarta-feira, 15 de Setembro de 1943

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DO LIVRO "CHÃO DE AMOR"

fotografia da quinta do Bom Sucesso e vista da casa da Quinta da Aldeia

A Velha Quinta

Os dois ambinhos temos uma Quinta…
e, nessa Quinta está o nosso Lar.
A Quinta abrange o nosso mundo inteiro
que fica nesse simples só lugar.

E, fome ou sede, quanto a terra sinta,
passa-se em nós, sentimos nós em par.
A terra é o nosso Corpo…mas, primeiro
a ela damos p’ra depois nos dar.

E a casa que essa Quinta tem ao meio
É onde a Alma tem o Seu Altar.

E o mesmo Amor que aos dois ambinhos liga
é o que sustêm a Quinta nossa amiga.

Dos Avós foi…Dos nossos pais nos veio…
Aos nossos filhos vamos nós deixar.



Do Livro “ Chão de Amor “

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ANTÓNIO VIEIRA LISBOA - Poeta (1908-1968)



Banho no Rio


Teu Corpo surge mal envolto
E com prazer se entrega à friura do Rio.
Na tarde morna e plácida de Estio
sente-se só na água o Corpo desenvolto.

Último sol te seca os cabelos em fio.

Por que não trazes sempre o Teu cabelo solto?

Daqui a pouco é noite e eu ardo-me em cio.

Na quietude deste mês de Estio
só eu sinto o coração revolto…

Ah que se eu fosse o Rio!

Do Livro “ Chão de Amor “

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